"Buenas e m'espalho! Nos pequenos dou de prancha e nos grande dou de talho!?"
Nesse segundo volume de O Continente, a primeira parte da série literária O Tempo e o Vento do escritor brasileiro Érico Veríssimo, a saga das famílias de Santa fé continua. Os capítulos dessa vez são mais curtos comparados ao primeiro volume. Eles vão de 1850 a 1895 mais o ano de 1895 com o Sobrado.
A estrutura da narrativa é a mesma, trechos de O Sobrado intercalam com A Teinaguá, A Guerra e Ismália Caré. Ao contrário do primeiro volume, a narratica é mais vagarosa e marcada por perfis e guerras psicológicas.
O Sobrado continua relatando o cerco ao sobrado de Licurgo Cambará, onde seus moradores e familiares estão sendo alimentados a base de laranja e farinha, sua esposa Alice está doente após o parto, e seus filhos vivem transitando pela casa aos cuidados dos empregados. Maria Valéria tenta esconder seu amor pelo cunhado Licurgo (esse sentimento não é contado no primeiro volume) e toma conta da casa. No meio de tudo isso, os conflitos da família, a personalidade de Licurgo e as relações ficam tensas devido ao cerco. Sendo bem sincera, nem eu aguentava mais aquela agonia de estar dentro do sobrado com eles. Não via a hora de tudo se ajeitar e poder respirar novamente.
A Teinaguá conta a origem de Luzia Silva, a mulher que casou com Bolívar Cambará, filho de Bibiana e do capitão Rodrigo. Luzia é uma pessoa muito atormentada e vive angustiada pela vida que leva em Santa Fé. Nesse capítulo é contado como o Sobrado foi parar nas mãos dos Terra Cambará e foi narrada pelo médico alemão, o doutor Winter. Uma parte muito interessante da história do Rio Grande do Sul e dos moradores de Santa Fé, principalmente do sobrado, são narrados por esse personagens em cartas que ele envia para um amigo. Nesse capítulo, o médico traça um perfil dos personagens e das situações apresentadas em quase todo livro.
A Guerra é praticamente todo focado no dia-a-dia do Sobrado, como é de costume, há a Guerra do Paraguai como plano de fundo. E é claro, uma guerra entre a Luzia e sua sogra - Bibiana, que disputam Bolívar, o neto Licurgo e o Sobrado (que para Bibiana é a continuidade de sua família e do seu Capitão Rodrigo). Tenho que admitir que nessa guerra entre nora e sogra eu tomei partido da Dona Bibiana, pois tinha vezes que me divertia com as suas "tiradas" na nora. Porém preciso ressaltar uma das questões que Luzia defendia muito bem que é o machismo e o papel da mulher no Rio Grande do Sul naquela sociedade. E bem, preciso dar o braço a torcer, já que aqui no Rio Grande do Sul, infelizmente, ainda há muito machismo e submissão da mulher em pleno século XXI.
Tenho que admitir que senti um aperto no coração quando Bolívar teve uma morte digna de um Cambará, pois - apesar de fazer um ano que li o volume 1 - ainda não tinha superado a morte de seu pai.
Ismália Caré o salto no tempo é maior. Licurgo Cambará já cresceu e vive com a mãe e a avó no Sobrado, ainda naquela guerra entre elas. Licurgo vive dividido entre o Sobrado e a vida no Angico, uma estância da família no interior. Me agrada muito essa vida do Licurgo, pois mostra bem como é a vida aqui no sul, apesar de agora serem poucas as pessoas que realmente tem amor pelo chão desse Rio Grande. Apesar de Ismália Caré ser o título deste capítulo, ela aparece pessoalmente apenas no fim do capítulo. Bem, Ismália é uma moça filha dos empregados do Angico que se envolve com Licurgo. A relação de ambos é complicada, pois Dona Bibiana não aceita o envolvimento de seu neto com a moça, ele mesmo sabe que precisa casar com uma "moça de família", mas o romance dura até mesmo depois do casamento dele com a prima Alice Terra.
Vale destaque: Bibiana Terra Cambará. Se no primeiro volume ela é apresentada como uma mulher submissa ao marido, sofrida e apaixonada. Agora ela está madura, endurecida pela vida e demonstrando sua personalidade forte e dominante, mostrando uma semelhança e afinidade com sua avó Ana Terra. Ela fez de tudo para defender a continuidade dos Terra Cambará, se mostrando mordaz e manipuladora quando necessário (principalmente arranjando o casamento de Bolívar com Luzia, apesar do preço que ela pagou por isso).
O Continente vol. 2 é tão envolvente quando o primeiro, mostrando que quem sai aos seus não degenera, afinal vi muito dos personagens do primeiro livro em seus descendentes, principalmente a teimosia e orgulho dos Terra.
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